domingo, julho 26, 2009

Súplica nordestina

Moisés esperou o dia de São José, mas a chuva não veio. Vou perder o arroz, pensou. Rezara tanto e ia ser mais um ano de seca?
Passou o 19 de março, sem chuva, mas a fé de Moisés não diminuiu. Ele, Maria das Graças, a mulher, e o filho Josias rezavam todo dia. Às vezes os três se juntavam a mais um bocado de gente dali, outro bocado dacolá e a reza virava um coro que de longe se ouvia.
Aí chegou abril e foi água! Veio maio – e mais água ainda! Moisés perdeu a casa e os trecos e só não perdeu a mulher e os filhos, porque estes se mudaram pra casa de uma comadre na parte alta da cidade um dia antes da maior de todas as chuvas, que arrasou com a vida no povoado.
Com a notícia de que as águas tinham levado seu Praxedes, seu sogro, um velhinho cego e tisquim, Moisés se perguntou: “São José, o senhor tá com raiva de nós por quê? Meu Deus, me diga onde foi que esse povo sofredor errou. Quer dizer que sai da seca e cai no dilúvio?”
Moisés falava sozinho e com Deus, mas Josias estava perto, atento, ouvira tudo e também tirou suas conclusões:
- Deus é mau! – disse o pequeno Josias, que embora só tivesse seis aninhos, já tinha o olhar longíquo e melancólico.
Moisés preocupou-se, pois não queria deixar Deus ainda mais irritado, por isso, disse pra Deus:
- Ligue pra ele não, Deus. Esse bichim não sabe o que diz!
E, olhando para o filho, balançou a cabeça. Moisés era desses tantos pobres sofredores que acham que Deus escreve certo por linhas tortas.

terça-feira, julho 14, 2009

mais um haicai

tão certa quanto a
conjectura de goldbach
você me encanta


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