Éramos crianças naquela época, nada sabíamos da miséria, dos preconceitos, de como a vida é ainda mais difícil para alguns seres humanos.
Talvez por isso nos escondíamos dela quando ela chegava lá em casa.
Era uma senhora negra que recolhia lavagem na vizinhança. Andava descalça e malvestida.
Quando chegava lá em casa, depois de recolher a lavagem costumava parar para conversar com mamãe, segurando o fétido balde com restos de comida. Educadamente, mamãe ouvia-a como se dispusesse de todo o tempo do mundo para isso. Nós ficávamos observando escondidos e contando os minutos para que ela fosse logo embora, pois o fedor da lavagem espalhava-se pela casa toda.
O mais surpreendente era que Dona Eudóxia - era esse seu nome - não perdia o bom humor: entrava e saía cantando lá de casa. Como ela parecia anestesiada diante da comida podre que carregava, como se fosse tão natural o malcheiro...
Pobre dona Eudóxia... Mas, como já disse, éramos crianças, e muito sinceras em nossos medos e em nossos ascos. Não, não estávamos ainda contaminados pelos preconceitos que adoecem a humanidade. E, no caso da minha família, esse mal não haveria de nos atingir. E, apesar de evitarmos cruzar com Dona Eudóxia, ela sabia que em nosso lar tinha a liberdade de contar as suas histórias sem represálias, sem se sentir menos gente por ter como tarefa de toda manhã carregar um balde de lavagem pelas ruas do nosso bairro...
Talvez por isso nos escondíamos dela quando ela chegava lá em casa.
Era uma senhora negra que recolhia lavagem na vizinhança. Andava descalça e malvestida.
Quando chegava lá em casa, depois de recolher a lavagem costumava parar para conversar com mamãe, segurando o fétido balde com restos de comida. Educadamente, mamãe ouvia-a como se dispusesse de todo o tempo do mundo para isso. Nós ficávamos observando escondidos e contando os minutos para que ela fosse logo embora, pois o fedor da lavagem espalhava-se pela casa toda.
O mais surpreendente era que Dona Eudóxia - era esse seu nome - não perdia o bom humor: entrava e saía cantando lá de casa. Como ela parecia anestesiada diante da comida podre que carregava, como se fosse tão natural o malcheiro...
Pobre dona Eudóxia... Mas, como já disse, éramos crianças, e muito sinceras em nossos medos e em nossos ascos. Não, não estávamos ainda contaminados pelos preconceitos que adoecem a humanidade. E, no caso da minha família, esse mal não haveria de nos atingir. E, apesar de evitarmos cruzar com Dona Eudóxia, ela sabia que em nosso lar tinha a liberdade de contar as suas histórias sem represálias, sem se sentir menos gente por ter como tarefa de toda manhã carregar um balde de lavagem pelas ruas do nosso bairro...