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O senhor tem certeza que era ela?
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Era ela, tenho certeza.
-
O senhor já conhecia ela?
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Eu já tinha visto ela pela BR...
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O senhor só tinha visto ou já transou com ela?
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Transar, assim, não foi bem uma transa não...
O
motorista insistia que era Maria, possibilidade que o delegado
se recusava aceitar.
Maria
nasceu há 17 anos, num lugar chamado
Pindura Saia, município de Pio XII, cujo
nome é uma homenagem ao papa que, pelo que hoje sabemos, calou-se
diante da perseguição aos judeus e protegeu nazistas, ao fim da 2a
guerra mundial; não estranhemos essa homenagem: a maioria dos
homenageados com nomes de cidades, ruas, obras, são pessoas pouco
escrupulosas.
O pai, Maria jamais conhecera. Um homem, a quem o vulgo batizou
simplesmente de Zé Grande, engravidou a mãe de Maria e abandonou-a
três meses depois para, segundo o dito cujo, ganhar muito dinheiro
no garimpo. Não se sabe até hoje quanto ele ganhou, se é que
ganhou, ou se perdeu o principal, a vida, que, por motivos óbvios,
ainda é o bem mais importante que possuímos (para alguns, o único
bem).
Mesmo
esperançosa de um dia abrir a porta e encontrar à frente o
sorriso dourado de Zé Grande, a mãe de Maria – que também se
chamava Maria – juntou-se a um outro homem rude, cortador de
juquira, pau pra toda obra, como se costuma dizer, de nome Manoel,
mas só conhecido e reconhecido de todos pelo apelido de Pé de
Cabra. Com ele, teve mais três filhos, dois meninos e uma menina.
Maria
ajudava a mãe a cuidar dos meio-irmãos, a plantar, quebrar
coco, fazer carvão e o que mais fosse preciso. Quando Maria tinha
seus doze anos, o dito Pé de Cabra, seu padrasto, quando sozinho com
ela passou constantemente a cercá-la de falsos carinhos e palavreado
ainda mais hipócrita e, por último, a ameaçá-la de morte, caso a
menina revelasse para a mãe o assédio que sofria.
Transtornos
tais Maria viveu até os 16 anos, quando, ao ser violentada
pelo padrasto, chamou a atenção da mãe e outras pessoas mais com
gritos e lágrimas. Apesar do flagrante, a mãe acreditou ou fingiu
acreditar na inocência de Pé de Cabra, que insinuou que a menina
vivia seduzindo-o há algum tempo, com o feitiço do sexo que
desabrochava.
A
mãe assistiu, sem atitude, o padrasto expulsar Maria de casa,
semi-nua e sem nem mesmo um chinelo no pé.
O
resultado é que a menina virou prostituta de beira de
estrada. E, enganada por alguns clientes que, ao final da transa
jogavam para ela uma nota de 1 real (e olha que ela cobrava a mísera
quantia de 5 reais), e também por ter aceito aquele valor em dias em
que o estômago falava mais alto, Maria se transformou em motivo de
chacota entre as colegas de difícil vida fácil, que passaram a
chamá-la de rapariga de 1 real.
Poucos
meses depois de cair nesse destino sombrio, Maria engravidou.
E, no 7º mês de gravidez, foi levada às pressas para o hospital,
sofrendo hemorragia.
O
médico de plantão não estava e uma das enfermeiras que a
atenderam mandou que parasse de gritar, pois, segundo a insensível
criatura, “na hora de fazer, não pensou nisso”.
É
triste ser lacônico ao descrever as circunstâncias em que
vida e morte passam a ter um limite efêmero, mas, em resumo, Maria
morreu.
Daí
o delegado não acreditar na história contada pelo
caminhoneiro, dizendo ser Maria a moça que aparecera na cabine do
seu caminhão, perguntando:
-
Cadê o meu dinheiro?
O
homem declarou ter caído da cabine, com o susto, pois a porta
do motorista estava aberta, e desmaiou, não sabendo exatamente por
quanto tempo ficara desacordado. Ao acordar, descobriu que todo o seu
dinheiro tinha sido levado.
Esse
foi o primeiro caso. Contudo, outros relatos já apareceram,
conforme as declarações de motoristas vários que percorrem a BR
316 no trecho entre as cidades de Pio XII e Santa Inês.
Todos
insistem que a mulher que os atemoriza, chegando
repentinamente como que do nada, e leva o dinheiro que trazem
consigo,
é
Maria...
Pio
XII, Maranhão, 07/05/2007.