Gilcênio Vieira Souza
Raridades III
Um texto de 1996. Sobre educação. Infelizmente, continua atual.
A escola no Brasil vive uma crise histórica. Esta afirmação virou um lugar comum, convenhamos. Porém, educadores conscientes do seu papel de agentes transformadores da realidade não podem adaptar-se à idéia de que é possível conviver acriticamente com este dilema. É preciso imaginar uma solução para os problemas educacionais brasileiros. E, imaginando, faremos uma primeira descoberta: a imaginação está ausente da escola, empobrecendo-a espiritualmente e alienando-a do processo social. Qual a importância do trabalho de dar “asas à imaginação” na sala de aula?
A liberdade de imaginar, exercida pelo professor e, conseqüentemente, pelo aluno, insurge-se contra a rotina robotizada que prevalece no ambiente escolar, cheia de tensões que deixam marcas em alunos e professores. O exercício da imaginação desperta nos alunos o interesse pela descoberta, o aluno descobre-se criador e libera aptidões, obscurecidas até então, devido à postura autoritária do professor e à monotonia não-criativa da escola.
Reciprocamente, o professor surpreende-se com seu próprio espírito lúdico e inventivo, que vivia sufocado pelo automatismo diário de um modelo educacional que privilegia a repetição e teme a inov(ação).
A escola precisa traçar um plano no qual todos estejam integrados numa ação uniforme, como um “Coletivo do Imaginário”. Sim, Coletivo do Imaginário (com maiúsculas mesmo), por que não? Não basta a atuação destemida de alguns professores. É necessário que todo o corpo escolar vivencie o trabalho da imaginação como uma prática democrática e um caminho para a mudança, para a invenção, para a criação do novo.
Imaginar é jogar; com imagens, conceitos, palavras. A prática pedagógica precisa adotar uma relação lúdica, que pontilhe de curiosidades o percurso utilizado pelo aluno, despertando-o para a busca e a recompensa da descoberta.